Dra. Maria Laura Jorge Piovesana

Apesar de sua importância crescente, a Medicina do Trabalho segue cercada de equívocos. Para muitos, ela se resume ao cumprimento de protocolos legais ou à burocracia corporativa. Mas a realidade vivida por quem está na linha de frente é bem diferente.

“Medicina do Trabalho é saúde preventiva em seu estado mais puro. É identificar riscos antes que se tornem doenças, é cuidar para que o trabalho não adoeça o trabalhador”, afirma Dra. Laura. “É estar onde as coisas acontecem. E onde o adoecimento muitas vezes começa.”

Ao longo de sua carreira, ela atendeu centenas de trabalhadores, elaborou laudos técnicos, implantou programas de saúde ocupacional e enfrentou desafios estruturais e culturais em diversas empresas. E, em todos esses cenários, uma certeza se mantém: o cuidado com a saúde do trabalhador precisa ser central, não acessório.

Com uma escuta atenta e olhar clínico apurado, Dra. Laura desenvolveu uma abordagem que valoriza o indivíduo por trás do uniforme. Ela compreende que cada dor, cada queixa, cada sinal físico traz também um contexto emocional, social e psicológico.

“A dor nas costas pode ser ergonomia ruim, mas pode ser também estresse crônico. A insônia pode vir de exposição a turnos exaustivos, mas também da pressão silenciosa por metas inatingíveis. A Medicina do Trabalho, quando bem feita, precisa ir além dos sintomas.”

Essa visão ampliada transformou sua atuação em algo muito além da medicina tradicional. Como gestora de saúde, ela pensa em políticas internas, estratégias de prevenção e ações educativas. Como perita judicial, traz imparcialidade e precisão técnica a disputas trabalhistas muitas vezes marcadas por sofrimento e invisibilidade.

O Brasil está entre os países com maiores índices de acidentes de trabalho no mundo. São milhões de notificações por ano, muitas delas evitáveis. Soma-se a isso o crescimento dos transtornos mentais relacionados ao trabalho — um fenômeno silencioso, mas cada vez mais evidente.

Para a médica, isso revela uma urgência: “Enquanto não houver um olhar estruturado para a saúde no ambiente laboral, continuaremos tratando as consequências e não as causas. A Medicina do Trabalho precisa ser vista como uma aliada estratégica da produtividade sustentável.”

E sustentabilidade, para ela, não diz respeito apenas ao meio ambiente, mas também à permanência saudável do trabalhador em sua função. Ações preventivas, ergonomia adequada, gestão humanizada e acompanhamento médico regular são pilares fundamentais.

Um dos papéis mais delicados que Dra. Laura desempenha é o de Perita Judicial. Nessa função, ela analisa casos de afastamento, doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, auxiliando o Judiciário a compreender o nexo causal entre a atividade profissional e o adoecimento.

“É uma função que exige rigor técnico, mas também empatia. Estamos lidando com histórias reais, com pessoas que foram machucadas pelo trabalho. É preciso avaliar com justiça, sem esquecer a humanidade de cada caso.”

A perícia exige atualização constante, conhecimento em diversas áreas da medicina, domínio da legislação trabalhista e, acima de tudo, sensibilidade para lidar com conflitos. “Ninguém procura a Justiça por capricho. Há sempre dor envolvida”, afirma.